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http://tede.bc.uepb.edu.br/jspui/handle/tede/5029
Tipo do documento: | Tese |
Título: | Hospício, prisão e os foras da literatura: a escrita de confinamento na literatura brasileira do Século XX |
Autor: | Cantalice Neto, Abdias Correia de |
Primeiro orientador: | Justino, Luciano Barbosa |
Primeiro membro da banca: | Ó, Alarcon Agra do |
Segundo membro da banca: | Brito, Herasmo Braga de Oliveira |
Terceiro membro da banca: | Aragão, Patrícia Cristina de |
Quarto membro da banca: | Silva, Reginaldo Oliveira |
Resumo: | O presente trabalho teve por objetivo discutir “o fora” a partir de narrativas produzidas em ou sobre espaços marcadamente criados para o confinamento: hospícios, prisões. A escrita de confinamento, além de trazer a experiência dos sujeitos em estágios de submissão aos espaços fechados, representa também uma linguagem errante, móvel, nômade. Ou seja, a literatura que se coloca sempre como um fora não só dos espaços de produção, mas fora de si mesma. Fora, nas palavras de Blanchot (2001, 2011a, 2011b, 2018), como um espaço independente, que não busca representar o mundo, mas é um outro mundo. Um mundo de singularidades contidas na escrita de confinamento. Assim, o fora não é o lugar para onde se projeta uma fuga, mas é como uma condição da própria literatura. O fora é um outro mundo, criado pela literatura. Esta literatura que, nas palavras de Barthes, “permite ouvir a língua fora do poder” (BARTHES, 2010, p. 16). Na condição de um confinado, o fora não é um espaço marcado na literatura, mas a condição de que a literatura se torna o mundo dos possíveis. Defende-se a tese de que os livros em análise funcionam como o fora da literatura nos espaços de controle. A literatura, ao narrar a experiência do confinamento, rompe com as barreiras impostas pelo poder. Os escritores, ao narrarem suas experiências através da literatura de confinamento, produzem singularidades. A narrativa, em tais espaços de controle, aponta para o fora que é a própria literatura. Metodologicamente, foram selecionadas como corpus de leitura que sustenta a tese levantada cinco obras de autores que tiveram suas produções ligadas ao confinamento. Partiremos das produções literárias da prisão e a relação que tais produções têm quando se trata do fora da literatura. Para isso, partimos da literatura de prisão em Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos, num intrínseco diálogo com a obra Memórias de um sobrevivente, de Luiz Alberto Mendes, que tem como espaço de criação a cadeia. Os confinados, ao produzirem literatura, instituem uma nova condição da linguagem literária: o fora da literatura. Dando sequência ao nosso corpus da pesquisa, trouxemos da escrita de hospício com as obras de Lima Barreto, com seu Diário do hospício; Maura Lopes Cançado, com seu livro Hospício é Deus; e Reino dos bichos e dos animais é o meu nome, da escritora Stela do Patrocínio, numa perspectiva de que a análise possa contribuir com a crítica literária das produções em tais espaços. Discutiremos a questão do fora da literatura a partir da escrita em espaços de silenciamento que, ao se dizer, potencializa a própria vida (DELEUZE, 2003). Os livros em estudo foram analisados a partir da perspectiva de que a literatura é uma linguagem errante. Uma linguagem criadora de outros mundos. Uma linguagem fora de si mesma. O conceito de fora foi discutido à luz de autores como Blanchot (2001, 2011a, 2011b, 2018), Deleuze (2019), Foucault (2015) e Levy (2011); e, ao ser aplicado à literatura de confinamento, se constitui aquilo que denominamos como fora da literatura. Nossa tese busca entender de como esse fora se desenvolve em espaço de aprisionamento. Como discussão crítica, entende-se que a literatura é o próprio fora. Com o objetivo de evidenciar o fora da literatura nas obras em estudos, partimos do conceito de que a experiência literária não só constrói o fora, ela é o próprio fora (LEVY, 2011). Penso, por fim, na esteira de Blanchot, discutir o fora absoluto, ou seja, discutir a literatura de confinamento como uma possibilidade, a partir da própria condição da literatura, de alcançar o fora que a linguagem literária suporta em si mesma. Nesse sentido, a linguagem literária, ao se afirmar transgressora, tende a ser um fora mais absoluto quando produzida em espaços de controle, ou seja, espaços de confinamento para os sujeitos estranhos às “normalidades” – o louco, o preso. Palavras-chaves: literatura; hospício; prisão; loucura; fora. |
Abstract: | The present research aimed at discussing "the outside" from narratives produced in or about spaces markedly created for confinement: asylums, prisons. Writing in confinement, in addition to comprising the experience of individuals in stages of subjection to carceral spaces, also represents an errant, movable, and nomadic language. That is to say, the literature that always operates as an outer side not only of its production settings, but also of itself. The outside, in Blanchot's (2001, 2011a, 2011b, 2018) words, as an independent space, which seeks not to represent the world, but is another world. A world of singularities contained in confinement writing. This way, the outside is not the place whither an escape is projected, but it acts as a condition of literature itself. The outside is another world, created by literature. This literature that, in Barthes' words, "allows us to understand speech langue outside the bounds of power*" (BARTHES, 2010, p. 16). In the condition of being confined, the outside is not a space marked in literature, but the condition that literature becomes the world of the possible. This thesis argues in favor that the works in analysis function as the outside of literature in spaces of control. Literature, in narrating confinement experiences, ruptures the barriers imposed by power. Writers, when narrating their experiences by means of confinement literature, produce singularities. The narrative, in such spaces of control, indicates the outside which is literature itself. Methodologically, in order to maintain the thesis hypothesized, five literary works were selected as reading corpora, whose authors had productions associated with confinement. We will initiate with the prison literary productions and the relation these productions have when it comes to the outside of literature. Thereunto, we will continue from prison literature in Memórias do Cárcere, by Graciliano Ramos, in an intrinsic dialog with the work Memórias de um Sobrevivente, by Luiz Alberto Mendes, which has the jail as its creation space. The confined, in producing literature, institute a new condition of literary language: the outside of literature. Subsequently, We will commence with asylum writing from the works by Lima Barreto, and his Diário do Hospício; Maura Lopes Cançado, with her book Hospício é Deus; and Reino dos Bichos e dos Animais é o Meu Nome, by the writer Stela do Patrocínio, in a way that the analysis can contribute to the literary criticism of the productions in such spaces. We will discuss the question of the outside of literature from writing in spaces of silencing which, in enunciating itself, intensifies life itself (DELEUZE, 2003). The works in this study were analyzed from the perspective that literature is an errant language. A language able to create other worlds. A language out of itself. The concept of outside has been discussed in the light of authors, such as Blanchot (2001, 2011a, 2011b, 2018), Deleuze (2019), Foucault (2015), and Levy (2011); and, when applied to confinement literature, it constitutes what we denominate as outside of literature. Our thesis seeks to comprehend how this outside develops in imprisonment spaces. As a critic discussion, it is understood that literature is the outside itself. With the objective of evince the outside of literature in the works studied, we start from the notion that literary experience not merely constructs the outside, it is the outside itself (LEVY, 2011). Conclusively, I consider, based on Blanchot's line of thought, to discuss the absolute outside, that is, to discuss confinement literature as a possibility, from the very condition of literature, of achieving the outside that literary language sustains in itself. In this sense, literary language, in declaring itself transgressive, tends to be a more absolute outside when produced in spaces of control, that is, confinement spaces for those subjects who are alien to "normalities" - the mad, the imprisoned.
Keywords: literature; asylum; prison; madness; outside. El presente trabajo tuvo como objetivo discutir “el afuera” a partir de narrativas producidas en o sobre espacios marcadamente creados para el encierro: hospicios, cárceles. La escritura de encierro, además de traer la experiencia de sujetos en etapas de sumisión a espacios cerrados, también representa un lenguaje errante, móvil, nómada. Es decir, la literatura que siempre se sitúa fuera no sólo de los espacios de producción, sino fuera de sí misma. Afuera, en palabras de Blanchot (2001, 2011a, 2011b, 2018), como un espacio independiente, que no busca representar el mundo, sino que es otro mundo. Un mundo de singularidades contenidas en la escritura del encierro. Así, el afuera no es el lugar donde se proyecta una fuga, sino que es como una condición de la literatura misma. El exterior es otro mundo, creado por la literatura. Esa literatura que, en palabras de Barthes, “permite escuchar el lenguaje fuera del poder” (BARTHES, 2010, p. 16). Como espacio confinado, el exterior no es un espacio marcado en la literatura, sino la condición en la que la literatura se convierte en el mundo de las posibilidades. Se defiende la tesis de que los libros bajo análisis funcionan como el afuera de la literatura en los espacios de control. La literatura, al narrar la experiencia del encierro, rompe con las barreras impuestas por el poder. Los escritores, al narrar sus vivencias a través de la literatura del encierro, producen singularidades. La narrativa, en tales espacios de control, apunta hacia el exterior que es la literatura misma. Metodológicamente, se seleccionaron cinco obras de autores que tuvieron sus producciones vinculadas al confinamiento como corpus de lectura que sustenta la tesis planteada. Partiremos de las producciones literarias carcelarias y la relación que tienen dichas producciones con el afuera de la literatura. Para eso, partimos de la literatura carcelaria en Memórias del Cárcere, de Graciliano Ramos, en diálogo intrínseco con la obra Memórias de un superviviente, de Luiz Alberto Mendes, que tiene la prisión como su espacio de creación. Los confinados, al producir literatura, instituyen una nueva condición del lenguaje literario: el afuera de la literatura. Para eso, partimos de la escritura del hospicio con las obras de Lima Barreto, con su Diario del hospicio; Maura Lopes Cansado, con su libro Hospício es Dios; y Reino de los animales y los animales es mi nombre, de la escritora Stela do Patrocínio, en una perspectiva que el análisis puede aportar a la crítica literaria de las producciones en tales espacios. Continuando con nuestro corpus de investigación, trajimos. Abordaremos el tema del afuera de la literatura desde el punto de vista de la escritura en espacios silenciadores que, al decirlo, realza la vida misma (DELEUZE, 2003). Los libros objeto de estudio fueron analizados desde la perspectiva de que la literatura es un lenguaje errante. Un lenguaje que crea otros mundos. Un lenguaje fuera de sí mismo. El concepto de afuera fue discutido a la luz de autores como Blanchot (2001, 2011a, 2011b, 2018), Deleuze (2019), Foucault (2015) y Levy (2011); y, cuando se aplica a la literatura de encierro, constituye lo que llamamos literatura de fuera. Nuestra tesis busca comprender cómo se desarrolla ese afuera en un espacio de encarcelamiento. Como discusión crítica, se entiende que la literatura es el afuera mismo. Para resaltar el afuera de la literatura en las obras objeto de estudio, partimos del concepto de que la experiencia literaria no solo construye el afuera, es el afuera mismo (LEVY, 2011). Finalmente, siguiendo la estela de Blanchot, pienso en discutir el afuera absoluto, es decir, discutir la literatura del encierro como posibilidad, a partir de la condición misma de la literatura, de llegar al afuera que el lenguaje literario soporta en sí mismo. En este sentido, el lenguaje literario, al afirmarse como transgresor, tiende a ser un afuera más absoluto cuando se produce en espacios de control, es decir, espacios de encierro para sujetos ajenos a las “normalidades”: el loco, el prisionero. Palabras clave: literatura; hospicio; prisión; locura; afuera. |
Palavras-chave: | Literatura Hospício Prisão Loucura |
Área(s) do CNPq: | LINGUISTICA, LETRAS E ARTES::LETRAS |
Idioma: | por |
País: | Brasil |
Instituição: | Universidade Estadual da Paraíba |
Sigla da instituição: | UEPB |
Departamento: | Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa - PRPGP |
Programa: | Programa de Pós-Graduação em Literatura e Interculturalidade - PPGLI |
Citação: | CANTALICE NETO, A. C. Hospício, prisão e os foras da literatura: a escrita de confinamento na literatura brasileira do Século XX. 2024. 188 f. Tese (Doutorado em Literatura e Interculturalidade) - Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2024. |
Tipo de acesso: | Acesso Aberto |
URI: | http://tede.bc.uepb.edu.br/jspui/handle/tede/5029 |
Data de defesa: | 8-Mai-2024 |
Aparece nas coleções: | PPGLI - Teses |
Arquivos associados a este item:
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HOSPÍCIO, PRISÃO E OS FORAS DA LITERATURA_COM FICHA CATALOGRAFICA.pdf | PDF - Abdias Correia de Cantalice Neto | 1.28 MB | Adobe PDF | Baixar/Abrir Pré-Visualizar |
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